30 de out. de 2009

A sombra da árvore do crime



Uma árvore nasceu bem no meio no meio de uma comunidade. No início ninguém se importou muito, pois a árvore não incomodava. Com o passar do tempo, a árvore cresceu e seus galhos começaram a fazer uma sombra enorme sobre as casas. As pessoas queriam tomar um banho de sol ou secar suas roupas no varal e não conseguiam por causa da sombra.


A comunidade começou a reclamar. No ônibus, no mercado, no salão, nos bares e clubes só se falava da maldita sombra que perturbava a todos. Alguns grupos organizados passaram a cobrar das autoridades uma providencia, até que a situação se tornou insustentável. Passou até na televisão.


Finalmente, houve uma reunião e as autoridades decidiram enviar uma equipe para acabar com o problema. Essa equipe munida de tesouras enormes, começou a cortar os gravetos que estavam mais salientes, aqueles galhos mais finos que ficavam na parte mais externa da árvore. Não demorou muito e o “problema estava resolvido” O sol agora brilhava sobre os telhados das casas e o povo estava feliz, ninguém mais pensava na árvore. Até que em outra primavera novos gravetos cresceram e a sombra voltou a aterrorizar a sociedade.


É exatamente dessa forma que nossa sociedade combate o crime, a violência e a insegurança. A árvore do crime está bem no meio da sociedade, suas raízes são profundas e seus tentáculos estão instalados nos poderes executivo, legislativo e no judiciário. Está na polícia, nas organizações sociais e nas entidades religiosas.
O tronco dessa árvore é rico em corrupção, sonegação, estelionato, tortura e hipocrisia.


Quando a situação se torna crítica e a comunidade exige uma postura das autoridades, a polícia é enviada com seus fuzis para furar o crânio daqueles negrinhos que ficam vendendo sua balinha de maconha nas esquinas das ruas (os gravetos). Enquanto isso, ss galhos mais grossos protegem o caule. A hipocrisia somada a corrupção, impedem que a raiz da planta seja atingida. O pior disso tudo é que nós, comunidade ficamos felizes quando os exterminadores se apresentam com seu arsenal da morte. Somos incapazes de perceber que eles fazem parte do tronco e jamais irão combater a raiz do problema.


No final, muitas famílias chorarão seus óbitos, outras festejarão a falsa sensação de paz, enquanto novos pivetes são alimentados e fortalecidos com o próprio fruto da maldita árvore.

Ricardo Andrade
Jornal Folha Popular
Campanha Reaja
Movimento Negro Unificado

2 comentários:

D. Rodriguez disse...

É sempre assim, o ditafo é velho, porém sábio, precisamos cortar o mal pela raiz.

http://do-hiphop-rua.blogspot.com/

D. Rodriguez disse...

ditado*