Rapper nega candidatura já nas próximas eleições, mas deixa aberta a possibilidade de seu envolvimento com a política.
Conhecido em todo país, está mais uma vez no centro das atenções. A expectativa para que se candidate nas eleições de 2010 já tem mobilizado possíveis eleitores, que criaram um blog para “ajudar” o rapper a se decidir. O blog já tem depoimentos de figuras importantes, como o cineasta Cacá Diegues, em apoio à candidatura de Bill.
Toda essa movimentação começou quando Caetano Veloso “lançou” a candidatura o rapper ao senado, durante um show que faziam juntos. A declaração do mano Caetano provocou um grande burburinho e virou pretexto para que a Cufa - Central Única de Favelas encomendasse uma pesquisa, na qual se verificou que 37% dos jovens do Estado do Rio votariam em Bill.
O Blog das Ruas conversou com MV Bill sobre o assunto. Admite que “esse é o assunto de todas as rodas”, embora negue disputar as próximas eleições - “nunca passou pela minha cabeça ser candidato a alguma coisa”. Ainda assim, Bill dá a entender que esta não é uma possibilidade remota. Garante, inclusive, que, caso saia candidato, “vai ser para senador”.
Durante a entrevista, o cantor dá algumas “deixas” que animariam seus cabos eleitorais. “Tudo isso pra mim é muito novo. Sei que não vou cantar rap a vida inteira” ou “se um dia eu fosse obrigado a ser candidato” dão a entender que ele considera a possibilidade, apesar de suas negativas.
Uma declaração, porém, parece ser mais significativa que as outras. Comentando os resultados da pesquisa encomendada pela Cufa, Bill escorrega: “se eu for convencido a fazer parte dessa outra história”. Paira, então, a dúvida: quais seriam os argumentos necessários a convencê-lo?
Articulado, MV Bill demonstra ter uma visão sem preconceitos da política e a reconhece como o “caminho democrático que nos leva para outros lugares”.
Conta, embora não cite nomes, já haver conhecidos vários Mensageiros da Verdade (significado do MV) na política nacional.
Afirma que já tomou “muita porrada” e foi taxado de bandido e não identifica no atual contexto nenhum político que seja representante legítimo das favelas. Entretanto, prefere também não assumir esse posto: “se um dia eu fosse obrigado a ser candidato seria em nome das pontes”, diz.
Confira a entrevisa.
Você cogita sair candidato nas próximas eleições?
Não, nunca passou pela minha cabeça ser candidato a alguma coisa, mas isso sempre esteve presente na cabeça das pessoas, elas diziam que eu deveria militar em outras frentes, mesmo que fossem partidos, nem que fosse no futuro. Diziam e ainda dizem que minha contribuição no movimento social é importante, mas que me credencia a ser representante de parte delas em outros lugares. Se paramos para refletir, isso faz muito sentido. Se têm razão ou não, ainda tenho dúvidas. O fato é que o tempo tá passando e vamos amadurecendo.
O Rap é importante, o movimento social, negro, de juventude e todos os outros. Mas penso que parte de nós devemos estar sim, na política formal, marcando posições sérias e representando e levando os objetivos de um determinado seguimento da sociedade para as mesas de decisão. Só que hoje conseguimos falar para uma massa maior, não somente para a favela. Hoje o projeto não é dar voz a favela, mas é criar pontes de mão dupla entre a favela e o asfalto e nessa direção é que acredito que a nova revolução pode ser possível.
Peça produzida pelo movimento que deseja a candidatura do rapper
Tudo isso pra mim é muito novo. Sei que não vou cantar rap a vida inteira. Através do rap conseguimos mudar a vida de muitos jovens, mas é pouco, precisamos continuar trabalhando para mudar a vida de todas as pessoas, de todos os lugares.
As pessoas estão pedindo que você se candidate…
Tenho visto várias manifestações e mesmo na rua, as pessoas me abordando e pedindo para eu ser candidato ao senado federal, como se eu fosse salvação para alguma coisa. Não sou, sou apenas mais um louco que tenta contribuir para diminuir esse caos social que está afetando a todos. E exatamente por isso precisamos ter na política formal pessoas de sérias de outras origens, para termos equilíbrio social também na política. Pois essa seria uma outra forma de formalizar políticas públicas para uma parcela da sociedade que não tem representantes e daí o que é feito para elas é, penso, por cidadãos estranhos.
Mas garanto que se por ventura eu me candidatar a alguma coisa, o que acho difícil, vai ser para senador, pois tão importante quanto ter um mandato majoritário é a juventude brasileira marcar uma posição nacional e dizer que não quer mais servir de massa de manobra.
Nesse aspecto, essa candidatura estaria acima dos partidos e de ideologias, mas estaria focada na vontade de uma juventude dizer que esse mandato é nosso, comprometido não com a favela, mas com todos os jovens desse país que desejam sair da invisibilidade para então construir alternativas reais para todos.
Só não sei ainda quem seria o agente dessa missão. E por isso que eu digo, essa pessoa e esse mandato não deve sequer ter plataforma e propostas. A única proposta deve ser guiar os próximos oito anos ouvindo e executando os anseios da juventude brasileira. E, na boa, isso não acontece em estado nenhum… Isso me entristece, e isso me anima.
Caso saísse candidato, qual seria o partido de sua preferência?
Não penso nisso hoje. O Celso mandou fazer uma pesquisa, e nessa pesquisa o PT era o partido mais citado, e a maioria das pessoas preferem que eu seja deputado e não senador.
Eu não entendo nada de pesquisa, mas de toda maneira as pessoas pesquisadas diziam que votariam em mim independente do cargo escolhido. O mais importante de tudo isso é saber que as pessoas reconhecem em nosso trabalho algo que vai muito além de rimas e canto afinado. As pessoas nos reconhecem como militantes de um movimento que é politizado por excelência. Nos reconhecem como alguém que tem se esforçado para fazer diferença, para construir vidas.
E é o que estamos tentando fazer ao longo desses anos. Seria muito fácil ter uma frase para dizer o que eu faria, mas prefiro continuar fazendo o que estou fazendo, militando na base social e impactando sem alardes.
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